domingo, 29 de setembro de 2013

EU QURO PROFESSORES QUE SAIBAM FAZER UM COQUETEL MOLOTOV | Alexandre Bortolini

Dizem que professor tem que dar bom exemplo. O problema é saber QUAL é o bom exemplo. Se bom exemplo é chegar na hora, pagar os seus impostos e dar um abraço na Lagoa, eu dispenso.

eu quero professores que gritem na passeata, que invadam câmaras legislativas, que ocupem prédios públicos. que não tenham medo de descumprir as regras, quando as regras são só um jeito de manter a injustiça. e que ensinem outras coisas, além de português e matemática. ou melhor, que ensinem de outro jeito, pra que ler e fazer conta não sirva só pra passar na prova, mas pra mudar a história.

quero professoras que não sigam as regras gramaticais, e que ensinem que a língua é viva graças aos butiquins (assim mesmo, com u e com i!) e não ao dicionário. quero professores cachaceiros(!), que saibam o valor acadêmico de uma mesa de bar.

eu quero professores pretos. mas não aqueles pretos comportados, de cabelos raspados ou devidamente alisados. quero professores pretos de cabelos libertados que ensinem a história de um outro lado. e que inspirem alunos pretos (e brancos) a se libertarem.

quero professores macumbeiros, que ensinem que o diabo nada mais é do que o deus dos vencidos, e que mesmo a escravidão não pode matar a cultura de um povo. quero professoras evangélicas ensinando sobre liberdade religiosa e estado laico.

quero professoras funkeiras, que saibam descer até embaixo. que ensinem que bethoven era foda, mas que é preciso muita competência artística pra fazer um quadradinho de oito. e quero aula de balé e violino nas escolas públicas da periferia, pra lembrar que som de preto e favelado pode ser o que ele quiser tocar.

quero professores cubanos, bolivianos, angolanos, pra ensinar que ser brasileiro não é o único jeito de estar nesse mundo. e que nacionalismo muitas vezes é só um outro nome do racismo.

quero professoras feministas, que ensinem às meninas que elas são donas do seu corpo, e aos meninos, que ser homem também pode ser uma amarra. quero professoras vadias, dando aula de peito de fora e ensinando que a moral foi coisa inventada pelos estupradores. quero professoras putas, dando aula sobre estigma, hipocrisia e liberdade.

eu quero professores viados, que ensinem seus alunos a arrebentarem todos os armários. eu quero professoras travas, que ensinem que não importa o nome, o corpo ou o destino que lhe deram, você pode revirar tudo isso e criar a sua própria identidade.

quero professores surdos dando aula pra alunos que não são surdos e ensinando que o mundo pode ser falado em muitas línguas, inclusive mudas.

quero professores maconheiros, que ensinem que o dono da sua cabeça é só você mesmo e que o mundo pode ser visto de muitos jeitos. quero professores pichadores, que ensinem que as paredes não foram feitas só pra ficarem brancas. e que a cidade pode ser a tela de muitas ideias.

quero professores anarquistas que saibam o valor pedagógico da desobediência civil. quero professores vândalos, pra ensinar que a paz pode ser só um disfarce da verdadeira violência. quero professores de máscara, que saibam que as flores serão sempre prioritárias, mas que tem horas que vinagre e coquetel molotov também são necessários.

por fim, eu quero professores que defendam com unhas e dentes a democracia. mas que também saibam que às vezes a gente precisa pular a grade, quebrar a janela e invadir o palácio, porque a nossa sala de aula não acaba nas paredes da escola. e que ser professor pode ser também um outro jeito de fazer a história.



18 comentários:

  1. Muito bom Alexandre! Eu sou esse cara (professor) da foto!

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  2. Nossa Alexandre, o texto é genial, compartilhei para as pessoas refletirem

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  3. Amei o texto, muito bom para fazer com que as pessoas reflitam "fora da caixa"!!!

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  4. Ótimo texto e excelente reflexão, Xande!

    Vou compartilhar!

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  5. eu sou professora concursada do estado, dei aulas de educação artística em dois CIEPs durante alguns anos... minhas aulas eram anárquicas e funcionavem muito bem... de um dos CIEPs fui convidada a me afastar pela diretoria caretérrima... no outro, incrementei meu horário (com os tempos que dava no primeiro e continuei por alguns anos... a diretora ali, compreendia o valor da transgressão... um abraço pra Terezinha Feitosa e pra todos os meus alunos do CIEP Santos Dumont!!! E um abraço pra você Alexandre Bortolini pelo texto maravilhoso e absolutamente necessário!

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Alexandre conseguiu escrever td o que ta entalado na nossa garganta! Chorei quando terminei seu texto! Parabéns e obrigada pelas palavras!

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  8. Texto magnífico. Expressa toda indignação com o ocorrido e também mostra a necessidade de desamarrar nossos educadores da hipocresia imposta pela sociedade. Libertar-se da padronização educacional por uma educação mais criativa e moderna seja a solução para o nosso Pais.

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  9. O Brasil também precisa, acima de tudo isso, de professores que estejam preocupados em ensinar os filhos dos outros a "ler e fazer conta", e não somente com salários e estabilidade profissional.

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  10. Texto ridículo e fora de noção. Liberdade termina onde começa a do outro e respeito é algo que passa longe disso. Tu perdeu a total noção do que é certo ou errado.

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  11. Texto ridículo e fora de noção. Liberdade termina onde começa a do outro e respeito é algo que passa longe disso. Tu perdeu a total noção do que é certo ou errado.

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  12. Muito bom!! Amei! Apesar de dar aula e não ser professor, devido a formalidade de ter sido formado normalista. Uó essa palavra!! Me considero este professor arrebatador de ideias! Amei suas palavras querido!! Bjs

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