quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Eu não tenho medo de blackblock.

GLOBONEWS: "A violência nas manifestações cresce e assusta." Assusta quem? Eu não tô assustado. Não torturo animais pra produzir cosmético. Não exploro professores. Não privatizo petróleo. Não tô fazendo rios de dinheiro com a Copa. Não faço lucro botando gente amafuada em ônibus velho. Nem mato jovens negros só porque eles moram na favela. Não. Eu não tô com medo.

Todo mundo diz que quer que as coisas mudem. Alguns querem que mude muito. Mas boa parte não quer que mude tanto assim. Tem muita gente magoada com a promessa não cumprida de primeiro mundo. Cariocas de classe média ressentidos porque finalmente descobriram que não, o Rio não é Nova York. Gente revoltada com a corrupção, mas que faz campanha pro Aécio. Gente que prega liberdade de expressão, mas não acha adequado dois homens se beijando na televisão. Gente pra quem a PM sempre foi muito útil, pra dizer quem são as pessoas de bem - elas, claro - e quem pode ser humilhado, expropriado, espancado ou tomar logo um tiro na cara pra saber o seu lugar.

 Tenho medo, isso sim, é que essa gente babaca faça de novo o que já fez antes. Lá em 64, em 89, lembra? (se não era nascido, joga no google!) E em nome desse medo - que definitivamente não é dos black blocks - em nome do medo de não serem mais os únicos "formadores de opinião", os donos da razão, as elites intelectuais ou qualquer outra abobrinha direitista que seja, eles acabem sustentando o que já sustentaram antes.

 O medo já foi e continua sendo usado pelos piores regimes da história (quem mandou ficar só decorando pro vestibular e não escutar direito o que aquele professor meio comunista dizia nas aulas...). E não só pelas ditaduras, não não. Os americanos são especialistas em fazer isso na "maior democracia do mundo" - haja vista como boa parte deles pode ficar aterrorizado com a ideia de um sistema público de saúde!!!

 Mas a coisa não é tão simples. Se fosse só um medo de classe, era só mirar as bombas pro Leblon. Mas esse é também um medo moral. E conservador tem por toda parte. Porque o mundo é uma coisa só. É como um pega vareta. Se vc puxa praqui, acaba mexendo ali. E no medo de que tudo desmorone, e junto com a vidraça caia também a falácia das "pessoas de bem", é que a coroa classuda da Lagoa e a tia crente da Pavuna acabam dando as mãos. Na verdade tem gente com medo. Muito medo. Medo de que nessa onda venha água demais, e acabem legalizando a maconha, desmilitarizando a PM e abrindo a porteira da favela. E as empregadas domésticas, que (olha que ousadia) já dividem o mesmo avião com elas, agora sentem no sofá! E que as primas sapatão agora tenham lugar na mesa do jantar.

 O problema, e esse é um problema grave, é que pobre tá fazendo faculdade, racismo dá cadeia, bicha tá casando e puta tá querendo carteira de trabalho. Até os vegetarianos tão ficando mais abusados. E é exatamente por isso que eu não tô com medo. E é exatamente por isso que eu tô, finalmente, com alguma esperança.